domingo, 13 de novembro de 2005

ABSTRAIR

Eu redescobri a abstração.
Ver situações sem envolver-me.
Esse era um costume antigo... que durante um tempo foi deixado de lado.
Olá Velho Hábito estou de volta!
Eu sou Alcazzar, sou Rhiata.
Dona de tempos e de momentos.
E mesmo assim rodando em volta dos mesmos fatos.
Fatos que se tornam-se mistérios que consomem,animam, revigoram e definem.
Momentos existem para serem vividos. Vividos plenamente.
Antigos amigos de batalha, amores que existem como lendas.
Amigos invenciveis. Coração que arde mesmo envolto em gelo.
Não existe resposta ao Enigma.
Existe apenas o Enigma.
E o Enigma sou eu.
E eu sou a ALCAZZAR
Eu sou RHIATA.

abs.tra.ir vti (lat abstrahere) 1 Considerar um dos caracteres de um objeto separadamente. vti 2 Excluir, prescindir de; fazer abstração de: Abstraindo da matéria, resta o espírito imortal. vtd 3 Afastar, alhear, apartar, separar: Abstrair temores. Abstraindo a atenção do assunto. vti e vpr 4 Afastar-se, alhear-se, apartar-se, separar-se: Abstraía das más companhias. Abstraíra-se a (ou de) tudo. vtd e vpr 5 Abster-se.

domingo, 23 de outubro de 2005

LENDAS DA PAIXÃO

Calai-vos ventos, árvores e mares,

Coro antigo de vozes rumorosas.

Céu , cessai vossas lágrimas; meus versos ouvi

E neles contemplai a linda princesa, filha dos Deuses:

Oh minha amada, sua presença é luz da aurora

Que dissipa as trevas, ilumina a vida

Tua beleza é dom, é força da natureza.


Desperta o sol da paixão

Incendeia e faz queimar o coração

Doce aroma , irresistível néctar

Teus lábios, fruto desejado, fruto proibido.

Sua voz, é mágica melodia de ave rara

Ao cair da tarde de primavera

Que faz viajar muito além do horizonte

Do som, da visão, do tangível ...

Que olhos os teus ! São cais noturnos cheios de adeus

Cheios de saudades. Tão negros, tão belos, tão puros.

Não, não me despertes, deixe-me sonhar

Essa vontade de amar que paralisa o trabalho

Esses entes de sonho e paixão que brigam no meu interior

É o hábito de sofrer que tanto me diverte, mas como dói !

Mergulhar nesse angelical sorriso, alvas pétalas de tua alma

Bálsamo para a ferida que dói e não se sente

Para o fogo que arde sem ver, para a dor que desatina sem doer

Oh! Quanto me pesa este coração, que era de asas

Hoje tapera escura, casa assombrada

Onde andam penitentes, sombras e ecos.



sussurado pelo Enigma
ouvindo - Con te partiró (andrea bocelli)

sábado, 8 de outubro de 2005

O que me define?

O mundo dá voltas.
As vezes fico tonta,
às vezes extasiada.
Eu me descubro impenetrável para muitos,
e completamente indefesa para poucos.
Uma pergunta me ronda
para ser respondida (quem sabe)em apenas uma frase:
Quem sou eu?
Será que é o que eu faço ou gosto que me traduz?
Ou é o que as pessoas acham de mim?
Será que eu sou o que as pessoas acham de mim?
Será que eu sou o eu mesma vejo?
De alguma forma eu sou algo mutante,
algo entre o camaleão e a pedra.
Parada e correndo.
Perdida entre a felicidade
e os murros de minha tristeza.
Sem tempo e sem momento.
Sentindo o Vento.
Evitando o Sol e adorando a Lua.
Descubro mundo através do foco de minha lente
e ela muitas vezes está sem foco.
Revelo pessoas pela minha lente.
Olhares furtivos, homens timidos, mulheres inquietas...
Será que me revelo?
Haverá punição por revelar almas e sentimentos?
Sigo a vida como criança tropeçando e levantando.
Vivendo descobertas. Redescobrindo.
Ser mutante,
ser amante,
ser amiga,
eu mulher.

domingo, 25 de setembro de 2005

Teu poema

A boca entre os olhos

Olhos castanhos
Olhos estranhos
Olhos que eu olhei

Boca bonita
Boca vivida
Boca que eu não beijei

Olhos escuros
Olhos maduros
Olhos que eu naveguei

Boca serena
Boca suprema
Digna de um rei

Olhos incertos
Olhos espertos
Olhos que eu foquei

Boca talhada
Boca tarada
Boca que eu desejei

Olhos profundos
Olhos do mundo
Olhos que eu inventei

Boca insana
Boca profana
Boca que eu gozei

Olhos que calam
Olhos que falam
Através do olhar

Boca sapeca
Boca “muleca”
Que vontade beijar

Olhos que afligem
Olhos que fingem
Não sentir dor

Boca esculpida
Boca despida
De todo pudor

Olhos risonhos
Olhos tristonhos
Que tu queres esconder?

Boca bendita
Boca maldita
O que eu vi em você?

Olhos que me ferem
Olhos que me querem
Ao alcance da mão

Boca sadia
Boca vadia
É toda tesão

Olhos que me cobiçam
Olhos que me enfeitiçam
Não posso mais olhar

Boca tão macia
Boca que vicia
Não devo mais beijar


Fim

domingo, 4 de setembro de 2005

Você disse...

Como vc me dá tanto tesão?

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

sábado, 23 de julho de 2005

RESPOSTA

Resposta - Skank

Bem mais que o tempo

Que nós perdemos
Ficou pra trás também
O que nos juntou
Ainda lembro
Que eu estava lendo
Só pra saber
O que você achou
Dos versos que eu fiz
Ainda espero
Resposta
Desfaz o vento
O que há por dentro
Desse lugar que ninguém mais pisou
Você está vendo
O que está acontecendo
Nesse caderno sei que ainda estão
Os versos seus
Tão meus
Que peço
Nos versos meus
Tão seus
Que esperem
Que os aceiteEm paz
Eu digo que eu sou
O antigo do que vai adiante
Sem mais
Eu fico onde estou
Prefiro continuar distante
Em paz

domingo, 24 de abril de 2005

Ao Vento

Solto ao Vento da madrugada

Um infinito grito de dor,

Proclamo o esplendor

Do sentimento que me tem amarrada.

Escusos traços de cor,

Rasgões de memória atormentada

Que negam a cilada

Em que desfaleci envolta em torpor.

Chamei por ti,

Chorei por ti,

Por ti eu caí

Num infinito céu,

Um mar sem um ilhéu

Onde pudesse resistir.

A maré arrasta-me,

Deixo-me levar

Por ti,

Apenas por ti.



Sussurado pelo Enigma
Desconheço o Autor

QUERO

Quero algo, quero nada,
Talvez calma.
Quero um sorriso,
Uma esperança, um passado
Perdido, escondido em ti.
Espero e desespero por algo,
Talvez nada.
Quero um sinal
Da tua alma ausente
Que longe me mantém incerta
E presente me desinquieta.
Conheci-te na bruma dos tempos
Perdidos nas memórias de verão,
Encontrados por detrás
Das grades da minha prisão.
Ilusão.
Foste uma ilusão?
Tento encontrar, sem achar,
Quero gritar, sem conseguir,
Ao vento norte
Que sopra forte e te afasta.
Em tempos conheci-te,
Desconhecido.



Sussurado pelo Enigma
Desconheço o Autor

Apenas digo Não

Apenas digo Não
Negando somente tudo
Em mim existente,
Sem qualquer razão.
Procuro no ar, em ti
Busco o porquê da solidão
Contida em mim, mas em vão,
Somente um Não me respondi.
Nego para fugir, fingir
Que sou forte perante a multidão
Tirana que me sufoca a emoção,
Que me renega o sentir.
Apenas o digo, apenas
Para esconder o meu Ser,
Encobrir o padecer
Ofuscando minhas penas.
Nego tudo, procuro a razão,
Resisto, desisto, insisto
Num sonho seguro, revisto
No eterno negar,
No eterno afirmar do Não.


Sussurado pelo Enigma
Desconheço o autor

sábado, 2 de abril de 2005

Não te amo como se fosses rosa de sal,
topázio ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce
e leva dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
senão assim deste modo em que não sou nem és,
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha,
tão perto que se fecham seus olhos com meu sonho

(Pablo Neruda)

domingo, 27 de março de 2005

Oração Celta

Que a estrada se abra à sua frente,
Que o vento sopre levemente às suas costas,
Que o sol brilhe morno e suave em sua face,
Que a chuva caía de mansinho em seus campos...
E, até que nos encontremos de novo,
Que os Deuses lhe guardem na palma de Suas mãos


Sussurado pelo Enigma

sábado, 12 de março de 2005

Fracao de segundo

Voce.
Eu sei... Vem: os olhos e os olhos teus.
E os meus olhares rastreiam: botoes, atalhos...
A pele queima. Chama.
Maos avidas, frias... e quentes...
Um instante apenas, o silencio aflito!
Um gesto. Um... Respiro.
O ar me falta e a cor ressalta no rosto.
A voz pequena, fraca, diz...
A boca, seca, e o sorriso, "aquele"...
E ficam todas aquelas palavras que eu nao digo.


murmurado pelo Enigma
escutando Joss Stone "Security"

domingo, 27 de fevereiro de 2005

Boca

Adoro Boca
Boca bonita
Boca à boca
Boca que murmura.
Boca quente e gostosa
Boca que provoca e excita
Boca de sussuros infinitos
e palavras ardentes
Boca que murmura
palavras lindas para a Lua
Lua menina
Lua de encantos
Boca que canta ( a Lua )
Que encanta o Vento
Vento sem tempo
Vento da Lua?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

A Minha Gratidão É Uma Pessoa

Depois de pensar um pouco
Ela viu que não havia mais motivo e nem razão
E pôde perdoá-loÉ fácil culpar os outros
Mas a vida não precisa de juízes
A questão é sermos razoáveis
E por isso voltou
Pra quem sempre amou
Mesmo levando
A dor daquela mágoa
Mas segurando a sua mão
Sentiu sorrir seu coração
E pôde amar como nunca havia amado
Mas como começar de novo
Se a ferida que sangrou a acostumou a se sentir
Prejudicada?
É só você lavar o rosto
E deixar que a água suja leve longe do seu corpo
O infeliz passado
E por isso voltou
Pra quem sempre amou
Mesmo levando a dor daquela mágoa
Mas segurando a sua mão
Sentiu sorrir seu coração
E pôde amar como nunca havia amado
E viveram felizes para sempre
Estavam livres da perfeição
Que só fazia estragos (por aqui)...

JQuest

O Que Eu Também Não Entendo

Essa não é mais uma carta de amor
São pensamentos soltos traduzidos em palavras
Pra que você possa entender
O que eu também não entendo
Amar não é ter que ter sempre certeza
É aceitar que ninguém é perfeito pra ninguém
É poder ser você mesmo e não precisar fingir
É tentar esquecer e não conseguir fugir
Já pensei em te largar, já olhei tantas vezes pro lado
Mas quando penso em alguém é por você que fecho os olhos
Sei que nunca fui perfeito, mas, com você, eu posso ser
Até eu mesmo, que você vai entender
Posso brincar de descobrir desenhos em nuvens
Posso contar meus pesadelos e até minhas coisas fúteis
Posso tirar a tua roupa, posso fazer o que eu quiser
Posso perder o juízo, mas com você eu tô tranqüilo
Agora o que vamos fazer eu também não sei
Afinal, será que amar é mesmo tudo
Se isso não é amor, o que mais pode ser
Estou aprendendo também

terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

"Vento menino,
Vento homem,
Vento que toca e envolve
Envolve a Lua,
Lua menina,
Lua mulher
Lua convertida em Tempestade
Apenas para brincar com o Vento..."

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

A Lua e o Vento


Vento menino
Vento homem
Vento cretino
Sopra.... e some

Lua menina
Lua mulher
Lua divina
Sabe o que quer

Vento seco
Vento suado
Vento fresco
Sadio e sarado

Lua cheia
Lua nova
Lua alheia
Não importa

Lua é sempre Lua
Escondida
Vestida
Ou nua

Vento que avassala
Lua que acalanta
Vento que acasala
Lua que encanta

O Vento passa
O Vento assovia
A Lua é cheia de graça
A Lua é magia

É mistério que fascina
É mulher-lua
É lua-menina
Escondida... vestida
Ou nua
É obra-prima divina

O Vento soprou
Passou...
E voltará a passar
Ele é assim
Mas como segurar?
Se não tem começo
Nem fim

.........

Saudades

Não recordo se amo teu olhar
Ou aquela música que nunca dançamos
Tua presença me encanta como no primeiro momento
Um homem um sonho
Sinto teu sorriso
E esqueço suavente de tudo que tenho passado
Meus olhos te procuram
Me alma se encanta
Tudo em ti me faz sentir mais bela e calma
Tua voz, como o vento se faz presente em tua ausência
Teu calor agora tão distante me rodeia
Como preencher o vazio em minha alma,
Se ela se alimenta apenas do fato de tua existência homem dragão...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

Vento

Só o Vento pode envolver a Lua...

domingo, 13 de fevereiro de 2005

Lua

Mensagem escrita, mensagem apagada
Palavras que voam com o vento, sem deixar pegadas
Sem revelar segredos
Dele (o vento) só o sussuro
Sussuro de terras distantes...
O que dizia o vento?
lua linda..lua nua...lua...simplesmente lua
Enviado por "Resposta do Enigma"

domingo, 6 de fevereiro de 2005

Texto I

Lágrimas do Enigma

Ontem eu chorei.
E que eu me emocionei e acabei ficando com os olhos marejados.
Há muito tempo eu não chorava.
Não que não tivesse tido vontade, simplesmente não chorava.
Talvez por defesa, até porque quando choro muito fico com dor-de-cabeca.
Suponho que não tenha mais problemas em chorar.
Ou será que eu já nao ligo mais?
Tudo bem, se eu cair, o importante e me levantar rápido.
Seguir em frente.
Você nao me fez cair.
Não chegou arrebatando.
Não roubou toda a minha atenção.
Você veio e me encontrou com todos os escudos possiveis. Mas não se intimidou.
Ao contrário de muitos homens, você não parou no primeiro obstáculo.
Continuou tentando. Com seu jeito manso, engraçado e sério, doce.
Você fez piada da minha indecisão. Dos meus medos.
E, sem me dar conta, eu fui me acostumando com a sua sutil insistência em mim, e me apaixonando pela sua capacidade de ser, sem planejar, muito do que eu sempre quis em alguem.
E isso nao e pouca coisa...

Para o meu amor Dragão


Texto II
"O meu amado tinha a fadiga de muitos séculos Deitava-se no sofá, cabeça no meu colo:
'Com você encontrei a paz'
Mas estava cansado. Tinha saudade de mais paz do que lhe poderia dar todo o meu amor sem limites.
'Hoje estou triste como o Diabo e sem motivo'
O motivo era ser esta vida um exílio e sua alma uma chama que só aplacaria em um Deus"
O vento soprando de longe Talvez uma chuva apareça
O céu torne-se inchado de nuvens E as estrelas de uma vez, emudeça .
O vento soprando de origem indistinta Trazendo odores de flores noturnas
Tão pequenas, suaves quanto bonitas Que pena terem vidas tão curtas.
O vento soprando pra dentro do vento
O mar devolvendo seu lamento em forma de onda
Os banhistas esquecidos acabam não percebendo
E se perguntam indefesos se o mar é da sua conta. O vento soprando diversas partículas
Como um arquivo vivo espalhando seus documentos
E apesar do tamanho e bagunça parecem ridículas,
Assim sou eu, minha vida e meus pensamentos.
Christianna V.

sábado, 5 de fevereiro de 2005

Perdido?

Quando tudo está perdido sempre existe um caminho, quando tudo está perdido sempre existe uma luz: - mas não me diga isso...
Hoje a tristeza não é passageira, hoje fiquei com febre a tarde inteira e quando chegar a noite cada estrela parecerá uma lágrima...
Queria ser como os outros e rir das desgraças da vida ou fingir estar sempre bem, ver a leveza das coisas com humor: - mas não me diga isso...
É só hoje e isso passa! só me deixe aqui quieta, isso passa... - amanhã é um outro dia, não é?
Eu nem sei por que me sinto assim!
Vem, de repente, um anjo triste perto de mim...
- E essa febre que não passa e meu sorriso sem graça... Não me dê atenção, mas obrigado por pensar em mim.
Quando tudo está perdido sempre existe uma luz?
Quando tudo está perdido sempre existe um caminho?
Quando tudo está perdido eu me sinto tão sozinho...
Quando tudo está perdido não quero mais ser quem eu sou: - mas não me diga isso, não me dê atenção e obrigado por pensar em mim...

Legião Urbana

domingo, 30 de janeiro de 2005

Prestem atenção

"Não se entrega a chave do desejo a qualquer um, nem se deve implorar que alguém a pegue."

O Unicórnio e o Caçador

Muitas vezes, uma história começa na mais profunda escuridão, já que a maior aventura de todas é justamente achar o caminho para a luz. Assim foi com os nossos dois personagens. Personagens disparatados, diferentes. Que teria um a ver com o outro?
Ela era um unicórnio diferente. As pessoas geralmente associam um unicórnio com paz e bem-aventurança, com cura e inocência. Ela, no entanto, era o unicórnio da inocência perdida, e tinha durante sua longa vida usado mais vezes seu chifre mágico como espada que como meio de cura. Sim, ela tinha matado e ferido. Nunca por opção, mas com o cerrar de mandíbulas e a determinação feroz de quem luta por aquilo que tem de mais precioso.
Ela não se esquivava de derramar sangue, mas toda a vez lhe vinha o medo de que o cheiro de sangue derramado deixasse de lhe subir às narinas como podridão e ficasse atraente. Ela tinha medo de se tornar o que mais odiava: de se tornar uma criatura que mata por prazer. Temia esquecer que era um unicórnio. Não encontrava há muito com outros de sua espécie, que haviam se recolhido do mundo sensível para evitar encontros com seres humanos modernos.
Os humanos haviam mudado muito, e já fazia centenas de anos desde que a última donzela virgem e pura de coração havia colocado uma guirlanda de flores em seu pescoço. Muito, muito tempo se passara. Hoje era raro encontrar donzelas de qualquer espécie, e as mulheres não sabiam mais fazer guirlandas. A maioria nem tinha mais jardim para plantar flores. Ela, no entanto, não conseguia abandonar tudo com a facilidade dos outros unicórnios, sentia-se presa ao mundo material por um amor desesperado, e vezes sem conta ela se perguntara se esta sua incapacidade não seria uma falha grave em seu espírito. Será que lhe faltava algo?
Ser um unicórnio no mundo moderno fazia com que ela fosse arisca e temerosa. Poucos eram os lugares onde ela corria livremente. Na maior parte das vezes ela velava o sono de crianças escondida por trás do reflexo de prata da lua, e nem mesmo estas crianças sabiam que ela estava ali. Não, nenhum humano podia vê-la mais, pois a reação de reverência e adoração dos humanos de outros tempos desaparecera. Agora, humanos de todas as idades eram apenas predadores ferozes. Até as crianças bem pequenas, que em tempos remotos ao vê-la diziam "bonita!", hoje usavam outras palavras, como "meu!" e "dá!".
Vagarosamente, ela - que era um ser feito de e para a luz - mergulhou na solitária noite da alma. Ela estava só, totalmente só, sem iguais e sem amigos. Lentamente a tristeza tomava conta dela, e transparecia em todo o seu corpo. Ela já tinha sido da cor da areia mais branca quando bate o sol forte, agora sua pelagem tomava a cor amarelada do marfim antigo. Ela não tinha mais brilho e - se não fosse um ser imortal - poderíamos dizer que a velhice estava tomando conta dela. Mas não era velhice, não no sentido que os humanos ficam velhos, era cansaço. Cansaço de alma. Uma alma recoberta por anos de solidão e desencanto.
Não era natural nela fugir, se esconder, lutar e machucar. Ela era um ser que se deleitava na companhia de outros, na admiração que sabia suscitar. Um unicórnio era naturalmente vaidoso, e ela havia sido das mais vaidosas entre eles. Agora, quem se importava? Para quê manter-se bonita, se nem mesmo os animais a reconheciam mais? Se não havia mais puros de coração, que soubessem quem ela era?
Ela não podia partir, e não conseguia ficar. E vice-versa. O paradoxo foi transformando sua existência em uma tortura diária. Depois de pensar muito, por centenas de anos, ainda incapaz de abandonar o mundo que tanto amava e onde vivera por tanto tempo, ela tomou uma decisão: se no mundo não cabia mais sua beleza, ela se sacrificaria por ele antes que a feiúra do mundo a transformasse em um arremedo de si mesma. "Melhor derramar meu sangue, para que seja sugado pela terra e transformado em vida, que tornar-me um espectro e lentamente desaparecer" pensava ela. E começou a buscar alguém que a reconhecesse pelo que ela era, e a ajudasse a fazer este último sacrifício.
***************
Ele não se tornara caçador por gosto. Sequer gostava de caçar, na verdade. Pelo contrário, tantas e tantas vezes o olhar de suas presas, enquanto sucumbiam, era rememorado detalhadamente em longas noites de insônia. Ele não era caçador por prazer, era por necessidade, mas era dos melhores. Ele era um caçador moderno, um "executivo", e caçava outros de sua espécie.
Ele possuía um espírito sensível como poucos, e em sua infância e juventude isto era a causa de brigas constantes entre seus pais e ele. "Pare de sonhar, menino!" "Esta história de ficar em casa lendo romances já foi longe demais! Vá lá fora jogar bola!" A ladainha não tinha fim. Ele insistira com seus pais e tivera aulas de piano, mas o sonho de ser um concertista foi podado na raiz: "Música clássica uma ova! Isso é coisa de boiolinha! Você vai trabalhar na empresa do seu pai, e você sabe disso. Vá estudar administração. Piano é um bom hobby, elegante e refinado. E só."
Com o passar do tempo, sua profunda sensibilidade foi recoberta com camada após camada de cinismo, e ele descobriu que tinha uma armadura em lugar da sua alma. Por dentro, sentia-se oco. Por fora, duro como uma rocha. Foi o primeiro lugar de sua turma de administração na faculdade, e levou a empresa de seu pai a um sucesso que nunca tivera. Ele era rico, famoso, conhecido como empresário impiedoso. Quanto mais impiedoso era, mais a sociedade o incensava e caía a seus pés, e mais ele se odiava.
Como uma espécie de autoflagelação, ele caçava também animais selvagens. Cada um deles que morria em suas mãos era uma nova faca cravada em seu coração, era mais um fantasma a percorrer o deserto da sua alma. Era como se ele se punisse pela traição cotidiana cometida contra sua natureza verdadeira, matando a natureza a seu redor. E ele era bom neste tipo de caçada também. Caçara animais de todos os tipos, em todos os continentes. Tinha uma sala de troféus em sua casa, onde colocara seu piano. Enquanto ele tocava, os animais o fitavam com seus olhos de vidro. Vazios, como sua alma.
Ele caçava compulsivamente, e não sabia porque caçava, mas sabia que tinha que continuar caçando. Ele procurava por um algo que não sabia determinar, e enquanto não encontrava este algo, caçava. Caçou uma linda mulher para ser mãe de seus filhos, caçou para estes as melhores escolas. Mas era um marido de coluna social e um pai de porta-retratos. Sua mulher e seus filhos não conseguiam furar a armadura, e não desconfiavam do deserto que havia lá dentro. Ele não era mau com eles, apenas gentil e distante. A esposa se conformara com a vida de enfeite, e as crianças com a orfandade. Ninguém estranhava mais. Só ele sofria. E quando a dor estava a ponto de o destruir, ele ia para a sala de troféus e tocava piano. Ou partia para o mato para caça.
Foi justamente tocando piano no escuro, de madrugada, numa noite de lua cheia, que ela o encontrou pela primeira vez. Ele não a viu, a claridade da lua a escondia. Mas ela viu muito, viu a morte nas paredes e o tormento em sua música e em seus olhos. Ela entendeu que ali estava alguém que entendia a morte como ela. Alguém que compreenderia quem ela era e o que ela queria. Ele reconheceria nela a presa mais preciosa, e saberia honrar o seu sacrifício, a música lhe dizia. Ela decidiu naquele momento que este seria o caçador que a abateria.
***************
A caça estava arisca naquele dia, e ele pensava num misto de alívio e ansiedade que voltaria naquele dia sem um troféu, quando ela surgiu do meio das árvores. Só a sua presença trincou sua armadura de cima a baixo. Os dois podiam ouvir sua alma estalando como geleira na primavera. Ela se pôs diante dele, linda, trágica, só, eterna. Ele estava diante dela, nú e amedrontado, mortal, efêmero. Foi inevitável. Os dois se amaram perdidamente.
O choque de vê-la fez com que ele caísse de joelhos. Os olhos dela se suavizaram com a reação, e ela tocou um humano pela primeira vez em centenas de anos. Um leve toque com seu chifre, como uma bênção. A armadura partiu-se em mil pedaços com um estrondo. Ele começou a chorar. Chorou muito, muito tempo. Chorou por cada animal que matara, por cada homem de quem tomara o pão, por cada sonho perdido, chorava não sabia mais por quê. Era um dilúvio na sua alma. E ela pairava por sobre as águas.
Ela esperava, paciente. Sim, é assim que tem de ser, assim foi predestinado. Ela sabia. O amor dela por ele tornava o que estava por acontecer ainda mais sagrado. Afinal, haverá gesto de amor maior do que morrer por aquele que se ama? Num carinho, aproximou-se mais dele, e esfregou seu focinho aveludado no ombro curvado pelo choro. Ele agarrou-se a seu pescoço, desesperado, e chorou. Não poderia parar de chorar, nem se tentasse. E ele não queria parar.
Um longo tempo depois, esgotado o pranto, ela sussurrou em seu ouvido: "Faça o que tem de fazer...". Ele não conseguia falar, apenas sacudia a cabeça, exausto. Agarrado a ela. Não. Ela pediu: "Olhe para mim... Olhe em meus olhos."
Ele abriu os olhos e ela deu um passo atrás. Perdera o tom amarelado, perdera a desesperança. Ela faiscava como um prisma, refletindo todas as cores, era toda luz branca. Ele temia ficar cego depois de tanta luz. Ela olhava dentro de sua alma e via os indícios de primavera ali também. "Vamos, amado, termine o que começou. Liberte-nos."
Assunção Medeiros

domingo, 23 de janeiro de 2005

Resposta do Vento

Sopro... pra onde a vida me levar....
Nao corro... pq nao tenho pressa de chegar...
Mas sofro... pq nao vejo seu olhar.

Vento

Encerrando um ciclo

"Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final.
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o temponecessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos - não importa o nome que damos,
o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação?
Deixou a casa dos pais?
Partiu para viver em outro país?
A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu.
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente
transformadas em pó.
Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia
uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora.
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar.
Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes
ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor.
Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos,promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome
do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo,é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará.
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.
Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa,sacuda a poeira.
Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é."

* Paulo Coelho (O Globo - 22/08/04)


- Isso é uma das grandes verdades do mundo...será que um dia vou aprender?

Desejo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você sesentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono dequem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
Eque se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.


Victor Hugo

domingo, 16 de janeiro de 2005

Verdades

"De tudo, ficaram três coisas:

A certeza de que estamos sempre começando...

A certeza de que precisamos continuar...

A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...

Portanto, devemos:

Fazer da interrupção um caminho novo...

Da queda, um passo de dança...

Do medo, uma escada...

Do sonho, uma ponte...

Da procura, um encontro..."

(Fernando Pessoa)

domingo, 9 de janeiro de 2005

Gengis Khan

Certa manhã, o incomparável guerreiro mongol Gengis Khan e sua corte saíram para caçar.
Enquanto seus companheiros levavam flechas e arcos, Gengis Khan carregava seu falcão favorito no braço - que era melhor e mais preciso que qualquer flecha, porque podia subir aos céus e ver tudo aquilo que o ser humano não consegue ver.Entretanto, apesar de todo o entusiasmo do grupo, não conseguiram encontrar nada.
Decepcionado, Gengis Khan voltou para seu acampamento, mas, para não descarregar sua frustração em seus companheiros, separou-se da comitiva e resolveu caminhar sozinho.
Tinham permanecido na floresta mais tempo que o esperado e Khan estava morto de cansaço e de sede.
Por causa do calor do verão, os riachos estavam secos, não conseguia encontrar nada para beber até que - milagre! - viu um fio de água descendo de um rochedo a sua frente.
Na mesma hora, retirou o falcão do seu braço, pegou o pequeno cálice de prata que sempre carregava consigo, demorou um longo tempo para enchê-lo e, quando estava prestes a levá-lo aos lábios, o falcão levantou vôo e arrancou o copo de suas mãos, atirando-o longe.
Gengis Khan ficou furioso, mas era seu animal favorito, talvez estivesse também com sede.Apanhou o cálice, limpou a poeira e tornou a enchê-lo. Com o copo pelametade, o falcão de novo atacou-o, derramando o líquido.Gengis Khan adorava seu animal, mas sabia que não podia deixar-se desrespeitar em nenhuma circunstância, já que alguém podia estar assistindo à cena de longe e mais tarde contaria aos seus guerreiros que o grande conquistador era incapaz de domar uma simples ave.
Desta vez, tirou a espada da cintura, pegou o cálice, recomeçou a enchê-lo -mantendo um olho na fonte e outro no falcão.
Assim que viu ter água suficiente e quando estava pronto para beber, o falcão de novo levantou vôo e veio em sua direção.
Khan, em um golpe certeiro, atravessou o seu peito.Mas o fio de água havia secado.
Decidido a beber de qualquer maneira, subiu o rochedo em busca da fonte.
Para sua surpresa, havia realmente uma poça d'água e, no meio dela, morta, uma das serpentes mais venenosas da região.
Se tivesse bebido a água, já não estaria mais no mundo dos vivos.
Khan voltou ao acampamento com o falcão morto em seus braços.
Mandou fazer uma reprodução em ouro da ave e gravou em uma das asas:
"Mesmo quando um amigo faz algo que você não gosta, ele continua sendo seu amigo".
Na outra asa, mandou escrever:
"Qualquer ação motivada pela fúria é uma ação condenada ao fracasso".

Algo simples

Vamos começar com algo simples...
Sentir a presença e desvendar segredos
Procuro respostas...
Você as tem?