terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Minha chuva

 

Hoje eu vi a Chuva

Depois de muitos anos eu consegui ver chover

E foi como se eu tivesse tido uma Epifania

Foi como se não tivesse sentido nada mais

Nesses meus tantos anos de vida

No jornal apenas noticias do caos da cidade

Quarenta dias chovendo...

Uma São Paulo flutuante...

Andei calmamente para fora

Senti o gosto do vendo frio no rosto

As pequenas gotículas que vinham nas suas notas

A rua estava tranquila

E aproveitei a estranha calmaria que a chuva proporciona

Fui para o meio da rua

E me deixei molhar

Brindei a vida

Como pode repentinamente lembrarmos de quem somos

De quem fomos

Da criança que simplesmente rodopiava e sorria

Na chuva somos como um rascunho sendo passado a limpo

Me tras a autoridade de que nunca poderemos mandar no tempo

E que ele pode escorrer por nosso rostos como uma longa história a ser contada

Hoje a chuva está acessa

E com gosto de Ano Novo

Os banhos de chuva trazem de volta a criança

que hoje está num corpo de mulher


A chuva cai e trás de volta o frescor da minha alma serena…

 

Mistério


 

Gosto de ti, ó chuva, nos

beirados,

Dizendo coisas que ninguém

entende!

Da tua cantilena se desprende

Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados

Uma alada canção palpita e

ascende,

Frases que a nossa boca não

aprende,

Murmúrios por caminhos desolados.

Pelo meu rosto branco, sempre

frio,

Fazes passar o lúgubre arrepio

Das sensações estranhas,

dolorosas…

Talvez um dia entenda o teu

mistério…

Quando, inerte, na paz do

cemitério,

O meu corpo matar a fome às

rosas!

 

Florbela Espanca

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HORIZONTE E CALMARIA

Existem dias que acordamos com o mundo na garganta

Tudo vibra e expande em mim

Uma sensação asfixiante e gritante de agonia

Dias de solidão entre amigos

Dias de perfeição comigo mesma

Dias que são perfeitos porque ignoro

A banalidade da frase ‘dias melhores virão’

Sou um ser sem as crenças dos seres puros de coração

Não sou um gênio, sou noite , sou Lua

Eu gosto desses dias que sou sem expectativa

E ao mesmo tempo me sobram encantos

Fico de joelho e acaricio a areia

Sensação de tudo sentir e nada reter

Dentro de mim cicatrizes antigas, magoas fresquinhas, belos poemas

Sinto o orvalho da noite

Os sorrisos que me encantam

Sou um pedaço de mim que vive

Sou um pedaço feliz de mim mesma

Meu horizonte é calmaria...

 

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